engulo minha ansiedade sem mastigar direito
embalagens de besteira têm fundo
submerjo sem encontrá-lo
restos se acumulam nos cantos
não tem mais feed a ser visto
nada a atualizar
nem acho jeito de dar f5 em mim
rostos, corpos bonitos na tela
flerto com máquina
sem conexão que o valha
interações demais
mas os dedos só tocam a tela
não me deixo relaxar do passar das horas
alarmado
notificações que não se deixam desativar
o que tinha a fazer
tarefas, como feeds, intermináveis
todo lugar, um lembrete da era de trevas
tempo esperançoso virou mito
só se deseja desesperadamente sobreviver
que o dano não seja tão catastrófico
empatia é máscara da profissão
tanta tragédia alheia que ouço, busco ajudar
todo meu nada e caos interno que gritam, silenciados
o fone, no crédito ou no shopping trem, é descartável
não consigo me ouvir e não sei o que sairia se conseguisse
o ruído branco no lugar do incompreensível
o que é que sobra se tirar o que é obrigação e expectativa
será que ainda tem alma nesse amontoado de “tem que”
a vida suspensa em nome do que é prioridade
que diabos fazer quando a vida começar
e o pavor de já ter passado demais
sem saber responder o que é que eu realmente quero
o que é que eu realmente quero?
aceitar o sentido invisível por trás de tudo que há
o mundo é esse tanto do que não foi descoberto e do que não se compreende
tentamos traduzir
deve ter explicação lógica dialética sociohistórica etc
alguma autora que desconheço deve ter explicado brilhantemente, creio
tento aceitar a incompreensão só por hoje
em vez do inaceitável e inconcebível que a realidade virou
sigo no aleatório
interrompido por propagandas e avisos do que não foi pago
talvez a próxima valha a pena
uma hora o insight, a troca real ou o like vem